Compreendes os rios
que te falam
ao ouvido, bruscamente,
porque algo quer
adormecer em ti e neles,
algo sobe à tona
entre peixes e palavras,
algo nos faz
da mesma natureza
de funduras
e de correntezas.
Compreendes os rios
porque compreendes
demasiado os homens,
mas antes compreendes
a ti mesmo no desamparo
humano, a dinastia lenta
de espumas, realezas.
E é puro desamparo
de quem sofrendo, existe
ou a existir, protrai
a dor de haver o mundo.
Compreendes os ventos
desde garoto. Nascia
uma quase anuência,
um cochicho. Em livros
de aula vinha o vento
e entrava nas páginas
e ali se espreguiçava.
Mas dizias: - "Ó vento,
toma cautela! Pode
desocultar-te a noite
e por a nu teu corpo
entre as formigas letras."
Todavia, o conceito
de algum pensante vento
se estocava nas reses
de adjetivos e verbos.
E Bolívar sabia
que a palavra é universo.
Ou que os rios conduzia
junto ao vento do verso.
Carlos Nejar
In Simón Vento Bolívar
tela Joe Bergholm
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