23/02/2014

RETORNO


 
Afrodite sussurrou em meu ouvido:
- Prepara-te para acalentar o menino amor.
De braços estendidos o recebi
De coração desabrigado o vi chegar
e como uma manjedoura de pérolas o ninei.
Mas o amor se fez livre!
Desejou ir além de minha redoma
Sem olhar para nossa fronte, decidiu ir.
Foi, ficou, a volta, quero não, atentou, esqueceu…
De vez em vez corria ao meu encontro com um sorriso cor de céu.
Seduzia-me como um Dom Juan mais glamoroso ou
como o Casa Nova renascido das águas Venezianas.
Trazia-me cantigas das estrelas visionadas
Com paciência eu o admirava.
Baco um dia se apossou do meu ex-amor menino
Transformou minhas lágrimas no mais puro néctar fermentado das uvas de suas
entranhas.
A morada seria o bosque efêmero onde
há amores sedentos do meu ex-menino amor.
Após a quarta-feira de cinzas
O amor juvenil bateu a minha janela
-Posso pousar?
Todo meu corpo consentiu.
Dormiu dois dias a fio
Ao acordar estava com a tal meia idade
Mas a época não mudara
Nem eu.
 
Mônica Assunção Mourão
Imagem 'Afrodite e Eros', de Giovanni Antônio Pellegrini

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