Vai rasgando lentamente
as fichas de endereços.
Aqui morava um poeta
que bebia como um
capitão de longo curso
de oceanos de rum
- ou de outro álcool qualquer,
pois tudo valia a pena
àquela alma tão plena.
Nesta rua o amigo sério
levava vida de asceta,
buscando luzes à bordo
de tomos inavegáveis,
os quais, se luzes possuíam,
tornavam-nas inviáveis
por tanto embuçá-las em
argumentos tão noturnos
como se em luto fechado.
Aqui habitava um anjo.
Outro ali. E outros mais.Todos
com nomes que soavam suaves
lembrando flor e menina
como Rosa, Margarida,
Violeta,Flor de Lis
e as espécies Maria.
Nomes: só o que resta desses
doces animais extintos.
Vai rasgando lentamente
os retângulos que um dia
lhe ofereceram corretos
límpidos rumos de vida,
cálidos clarões de afeto
e se tornaram palavras
inúteis, que os endereços
agora são outros e
só em lápides inscritos.
Ruy Espinheira Filho
In Estação Infinita e Outras Estações
arte II roseto
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