20/09/2014

SONETO DA LUA ANTIGA


De repente ficamos muito antigos.
Em seu olhar ainda reluz a lua,
porém distante, sobre antiga rua
de onde me vêm farrapos de cantigas

antigas como nós. Um desabrigo
me ofende a alma ao pensar-te nua
agora, sob a luz dura da lua
que não é a outra lua, a lua antiga

que do teu corpo retirava o brilho
com que inundava o céu  e a minha vida
em vastidão de amor, cálida lua

que já não vem - ou só como esbatida
lembrança dos teus olhos, desde quando,
de repente, ficamos muito antigos.

Ruy Espinheira Filho
In Estação Infinita e Outras Estações
arte Chagall     

Nenhum comentário: