19/11/2014

XXV ( lembrança)


Perto do rio tenho sete anos.
(Penso que o rio me aprimorava)
Acho vestígios de uma voz de pássaro nas
águas.
Viajo de trem para o Internato.
Vou conversando passarinhos pela janela do
trem.
Um bedel raspou a cabeça de meu irmão no
internato.
Havia um muro cheio de ofendículos.
Liberdade havia de se pular aquele muro.
Do outro lado havia um guaviral onde os
moços e as moças se encontravam e se filhavam. 
A gente manuseava os pichitos.
Na Igreja os padres reuniam os alunos e
tentavam falar a sério.
Mas eu sempre achei muita graça quando as
pessoas estão falando sério.
Acho que isso é um defeito alimentar.
 
Manoel de Barros
In Poesia Completa
 

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