19/10/2021

                                  
                                      
Vê, querido
Isto que é nosso
A ternura
(que dá vertigens
e chega a ser desintegração);
O amor
(que nos fundiu num só bloco
e agora tua ausência é perda de mim mesma);
O desejo
(que nos abrasa como no primeiro dia
e se transformou num milagre de vida e meiguice);
Nossos filhos
(que nos limitam e nos tornam infinitos
crescidos em mim, vindos de ti);
A camaradagem
(quase de irmãos, que nos faz palestrar
horas a fio, em assuntos sérios e transcendentais);
E depois
Um riso teu,
Um muxoxo meu,
A discussão em torno de um pronome,
As tardes passadas entre papéis,
As noites ao pé da eletrola
Ouvindo a música que vive em nós;
Tudo isto
E tudo o mais:
As nossas tristezas choradas juntas,
As nossas saudades em comunhão;
Isso que é nosso,
Nosso será até o fim.

No futuro,
Ao te fazer outro poema
– Dádiva, oferta, acolhimento –
Ainda as mesmas palavras
Serão pronunciadas
Porém mais prenhes ainda
De significação.


Eglê Malheiros
Créditos Revista Gulliver
Arte Abbott Fuller Graves


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