A Carlos Chagas Filho
A morte - pássaro obstinado - voa cega dentro de nós a
cada instante.
Mesmo as amendoeiras floridas não prevalecem contra ela
na tarde a desfazer-se,
Até o vozeio dos pardais se aninhando e o voo das andorinhas
deixam cair caliça, a caliça do passado de onde vêm.
Cada fio de cabelo branco se enlaça numa árvore da montanha
ou se amarra numa telha velha da cidade.
Entretanto, humilde, a vida se esconde,
veia oculta, mas presente,
mancha de amor perfeito no musgo da pedra,
sangue na face obscura, voltada para dentro da terra.
Sua umidade poreja. Ela se insinua, invade, recua, resiste,
volte, trêmula, quase calada e obscura, mas persistente
como sensitiva que se retrai
para explodir um dia,
libertadora,
irresistível.
Madrid-Lisboa
Abril de 1974
Odylo Costa Filho
de Notícias de Amor
arte Christiam Schloe
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