Não cuides, não, que o amor te faz melhor:
no teu jeito de ser, de ver a vida
e sobretudo no de conviver
com quem te faz nascer, ai, como é fácil,
a grande aurora desse sortilégio.
Amor é só a semente que caiu
inesperada no teu chão. Quem sabe
o que achar vai nas sombras do teu peito,
morada de contradições? Não nasce
a flor, meigo milagre, em terra dura
que não sabe guardar o dom do orvalho.
Até pode vingar, mas será flor
fechada para a luz e cuja seiva
não chama o coração da mariposa.
A semente do amor pede o aconchego
do teu ser inteiriço, não apenas
do teu candor, do teu cântico doce,
do teu cântaro farto, teu encanto.
Ela quer ( e o fruto que se sonha
dentro dela) também o que te mancha,
teu sonso desagrado de entregar
e o áspero pó da tua indiferença.
Cuida bem dela, para que apodreça
a água suja empoçada em teu porão,
o diamante de espinhos invisíveis
- e tudo em rico estrume transformado
possa urdir na semente o amanhecer
não só da flor, mas do teu próprio ser,
capaz de bem saber o bem de amar.
Thiago de Mello
In O Estatuto do Homem
foto de Suzannes_Images no Flickr
Um comentário:
Amo esse poema! Obrigada por postar! =)
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