26/12/2010

O TEMPO

















DE MUITOS dias se faz o dia, uma hora
tem minutos atrasados que chegaram e o dia
forma-se com estranhos esquecimentos, metais,
cristais, roupa que seguiu nos recantos,
predições, mensagens que não chegaram nunca.

O dia é um tanque num bosque futuro,
esperando, povoando-se de folhas, de advertências,
e de sons opacos que entraram na água
como pedras celestes.
E margem
ficam pegadas douradas da raposa verpertina
que como um pequeno rei rápido quer a guerra:
o dia acumula em sua luz fibras e murmúrios:
tudo surge de repente como uma vestimenta
que é nossa, é o fulgor acumulado
que aguardava e que morre por ordem da noite
derramando-se na sombra.

Pablo Neruda
In Jardim de Inverno
foto de Eduardo Amorim

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