01/12/2010

SAGA DOS DEUSES - III























Não,
não me julgues um pássaro
torto,
julga o voo que este pássaro
faz para chegar a ti.

E seremos carne e osso.
Seremos o que em tua magia
transforma a canção no grito
sagrado do amor.

O matiz de tua voz que não cesse,
aqui na terra seca sob os meus pés
ouço cada sílaba dos teus segredos.

Tua lágrima, cabe sim, na métrica
dos homens,
tua dor te revela outros espaços.

Sê guardião se pretendes ser senhor.

Deixa que teu choro se espalhe
quando se fizer urgente e necessário.

Teu universo transposto
em teu corpo e som de tua fala.

Deixa, escandalosamente,
como uma manhã de sol sobre a mesa
do mundo
ou um grande mar - este monstro azul
onde bebemos sal.
Preservai esta gota de cristal
chamada coração,
no silêncio opaco das noites e
manhãs
a poesia ainda é possível e o
sonho um guerilheiro vivo.

Eulália Maria Radtke
In Lavra Lírica
tela de Henri de Toulouse-Lautrec

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