(Para Sérgio Faraco)
Não deixe o tempo
passar correntes
em volta de seu corpo,
e que as aranhas
teçam teias
em seus dedos.
É preciso impedir
que os olhos acostumem
o olhar pela janela,
na mesma rua
onde homens cinzentos
cruzam maquinalmente.
É necessário ter sapatos
bem engraxados,
sem furos nas solas,
para que os pés não cansem
e não se machuquem
nas pedras do caminho.
Morar em casas
com porão, sótão e quintal,
onde possamos encontrar
pessoas desconhecidas
e objetos indecifráveis
na soleira da porta.
Ter reservas de carinho,
coleções de selos e de moedas,
ter amigos que gostem
de música e poesia,
bolsos e armários embutidos.
Ter sempre a esperança
de encontrar o amor
num parque possível,
sábado ou domingo
ou outro dia qualquer.
Antes de tudo
e principalmente,
é preciso ter paciência,
crer que os tempos mudam
e que teias de aranha
não crescem sem motivo.
José Eduardo Degrazia
foto de Brother O'Mara
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