31/08/2011

ANIVERSÁRIO


Metade do tempo consumada
ou ainda mais.
No peito, a mesma fome, a mesma sede
do menino, do rapaz.
O mesmo olhar perplexo 
o mesmo
sem resposta
gesto crispado interrogando.

( É dezembro
e noite e abro a janela
e vejo outras janelas iluminadas.
Ali há vida, como na rua, como 
no campo e no mar e nos velozes
aparelhos que cortam o espaço 
e
talvez
noutros planetas e universos.
Como há incontáveis séculos e
provavelmente
amanhã. Mas tudo rápido
demais
que nem nos podemos saber
e partimos 
no mesmo escuro em que chegamos.) 

Perdi colegas, namoradas, cães.
Perdi árvores,pássaros, perdi um rio
e eu mesmo nele me banhando.
Isto o que ganhei: essas perdas .Isto 
o que ficou: esse tesouro
de ausência.

(A noite avança, e as janelas
aos poucos 
se apagam. No silêncio meu coração permanece
iluminado. Eis que trabalha, fiel,
mesmo quando revela
a si mesmo em breve imóvel
ou, depois, a última estrela
sem testemunhas
no céu final.)

Ruy Espinheira Filho
In Poesias Reunidas 

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