Vem brincar:janeiro
vai alto e azul
sobre o tamarindeiro.
Vem descalça e pisa
a grama macia
doce como a brisa
que nos diz que somos
(é segredo) reis
no país dos gnomos.
Vem ver, de manhã
colorir o dia
a guriatã.
E vem ver-me, à tarde,
guiar por um fio
uma estrela que arde
em azul: sete pontas
de serenidade
entre nuvens tontas.
E à noite vem ver
que, no sono, o sonho
é amanhecer
de manhã mais pura;
diversa, porém
igual em doçuras
àquela em que ponho
os olhos lavados
ao final do sonho.
É janeiro: vem
brincar , mas não digas
nada a ninguém.
Muita gente faz
o demais - e adeus
ao silêncio paz...
E com este janeiro
é preciso cuidado:
ele é velho arteiro
e não gosta que
o perturbem.Assim,
bem pode ser
que ele,num assomo,
sem qualquer aviso
faça exato como
há vinte anos fez:
se recolha ao Tempo
...e era uma vez.
Ruy Espinheira Filho
In Poesia Reunida
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