08/01/2012

OH TERRA, ESPERA-ME


Volta-me oh sol
a meu destino agreste,
chuva do velho bosque,
devolve-me o aroma e as espadas
que caíam do céu,
a solitária paz de pasto e pedra,
a umidade das margens do rio,
o olor do alerce,
o vento vivo como um coração
pulsando entre a esquiva multidão
da grande araucária.

Terra, devolve-me teus dons puros,
as torres do silêncio que subiram
da solenidade das raízes:
quero voltar a ser o que não fui,
aprender a voltar de tão fundo
que entre todas coisas naturais
possa viver ou não viver: não importa
ser uma pedra mais, a pedra obscura,
a pedra pura levada pelo rio.

Pablo Neruda
In Memorial de Ilha Negra
foto por Sonia Sisí 

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