22/02/2012

A ILHA E O MAR



A Júlio Castilhos


Nas solidões do oceano ergue-se às vezes uma
Ilha isolada, como um dorso de baleia,
Onde a vaga, bramindo, a branca flor de espuma
Desfolha a rebentar na  reluzente areia.

Na estéril quietação do pélago no centro
Orgulhosa, embalada ao marítimo salmo,
A ilha dorme... e a ferver, rasga por ela adentro
O oceano a conquistar-lhe a terra palmo a palmo.

Estoura-lhe na face o vagalhão frequente,
A areia diluindo e derrocando as fráguas,
E some-se por fim ela completamente
Sob o frio envoltório intérmino das águas...

Tal do seio do povo altivo se levanta
Como uma ilha maldita o trono do tirano,
E, oprimido, a bramir  aos poucos rói-lhe a planta
O povo a circular-lhe em torno como o oceano.

Porém um dia  enfim nos horizontes, quando
O globo irradiar do pensamento novo,
A vaga popular tronos despedaçando
Há de a tudo envolver, e tudo será Povo!

Raimundo Correia
In Raimundo Correia Poesia
foto  Floripacerto 

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