A Júlio Castilhos
Nas solidões do oceano ergue-se às vezes uma
Ilha isolada, como um dorso de baleia,
Onde a vaga, bramindo, a branca flor de espuma
Desfolha a rebentar na reluzente areia.
Na estéril quietação do pélago no centro
Orgulhosa, embalada ao marítimo salmo,
A ilha dorme... e a ferver, rasga por ela adentro
O oceano a conquistar-lhe a terra palmo a palmo.
Estoura-lhe na face o vagalhão frequente,
A areia diluindo e derrocando as fráguas,
E some-se por fim ela completamente
Sob o frio envoltório intérmino das águas...
Tal do seio do povo altivo se levanta
Como uma ilha maldita o trono do tirano,
E, oprimido, a bramir aos poucos rói-lhe a planta
O povo a circular-lhe em torno como o oceano.
Porém um dia enfim nos horizontes, quando
O globo irradiar do pensamento novo,
A vaga popular tronos despedaçando
Há de a tudo envolver, e tudo será Povo!
Raimundo Correia
In Raimundo Correia Poesia
foto Floripacerto
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