01/09/2012

MADRIGAL PARA CECÍLIA MEIRELES



Quando na brisa dormias,
não teu leito, teu lugar,
eu indaguei-te Cecília:
Que sabe o vento do mar?
Os anjos que enternecias
romperam liras ao mar.
Que sabem os anjos Cecília,
de tua rota lunar?
Muitas tranças  arredias,
um só extremo ao chegar:
Teu nome sugere ilha,
teu canto: um longo  mar.
Por onde as ondas fundias
a face deixou de estar.
Vida tão curta, Cecília
pra que então tanto mar?
Que música mais tranquila,
quem se dispos a cantar?
São tuas falas, Cecília,
a barco tragando o mar.
Que céu escuro havia
há tanto por te espreitar?
Que alma se perderia
na noite de teu olhar?
Sabemos pouco, Cecília,
temos pouco a contar:
Tua doce ladainha,
a fria estrela polar
a tarde tem funesta trilha,
a trilha por terminar
precipita  a profecia:
Tão curta a vida, Cecília,
tão longa a rota do mar.
Em te saber andorinha
cravei tua imagem no ar.
Estamos quites, Cecília:
Joguei a estátua no mar.
A face é mais sombria
quanto mais  se ensimesmar:
Tão curta a vida, Cecília,
tão negra a rota do mar.
Que anjos e pedrarias,
para erguer um altar?
Escuta o coral, Cecília:
O céu mandou te chamar.
Os anjos com tantas liras
precisam do teu cantar.
Com tua doce ladainha
(vida curta, longo mar)
proclames a maravilha.
 
Cacaso
In A Palavra Cerzida     

Nenhum comentário: