31/03/2011


















Se o mundo não tivesse palavras
a palavra do mar, com toda a sua paixão,
bastava. Não lhe falta
nada: nem o enigma nem
a obsessão. Entregue ao seu ofício
de grande hospitaleiro
o mar é um animal que se refaz
em cada momento.
O amor também. Um mar
de poucas palavras.

Casimiro de Brito
In Livro das Quedas
foto por dgaponenko
















Quando livros já não tiver
lerei as estrelas -
quando elas se cansarem
da minha solidão
lerei a palma
da mão.

Casimiro de Brito
In Arte Pobre
foto de Don Briggs

ECO



















É mais fácil partir quando o silêncio
transpõe a tua voz.
Mais simples celebrar a tão efémera
certeza de estares vivo.

A música do ar esvai-se nas sombras,
tu sabes que é assim,
que os dias correm céleres, não tentes
perseguir o seu rasto – repara
como em abril as aves são felizes.

Sê como elas: não perguntes nada,
deixa que o sol responda à flor da tarde
e esquece-te do mundo.

Fernando Pinto do Amaral
In Poesia Reunida
foto por NeilsPhotography  

30/03/2011

EM SILÊNCIO













 


"Bien souvent le bonheur est fils de I'ignorance"
(Justin Lhérisson)


Quando fores de vez, entediado
Desse excesso de amor, quando, tentado,
Preferires a tua liberdade,

Não me digas adeus, com frases doces,
Não me peças perdão, como se fosses
Torturado de angústia e de saudade.

Ao contrário, eu te peço, vai silente,
Sai do meu coração tão levemente,
Que eu nem chegue a saber que te perdi.

Houve no meu amor tamanho encanto,
Falseei tua imagem tanto, tanto,
Que o homem que tu és, nem conheci.

Alba Saltiel Bianco
In Música ao Vento
foto por Nison Domingos

MÚSICA

O carinho que te fiz
foi, em seus gestos sutis,
comparável ao afago
com que a lua esmalta o lago!

O carinho que te fiz
foi, em seus gestos sutis,
comparável ao sabor
com que o aroma orvalha a flor!

O carinho que te fiz
foi, em seus gestos sutis,
comparável ao alento
com que a folha aspira o vento!

O carinho que te fiz
foi, em seus gestos sutis,
comparável ao momento
em que o infeliz é feliz!...

Attilio Milano
In Todos os Poemas

29/03/2011

PERDIMENTO



















Sonâmbulo tateio entre bosques e barranco,
há um halo de magia aceso ao meu redor:
sem reparar se sou bem aceito ou maldito,
sigo à risca o meu próprio mandato interior.

Quantas vezes veio chamar-me a realidade
em que vós existis, para me comandar!
Dentro dela eu ficava assustado e sem forças,
e logo descobria um jeito de escapar.

Ao meu país ardente, do qual me privais,
ao meu sonho de amor, do qual me sacudis,
como as águas retornam sempre para o mar
também meu ser retorna usando mil ardis.

Amigas fontes guiam-me com seu cantar,
aves de sonho as plumas de luz a ruflar:
de novo faz-se ouvir o som da minha infância
- em áurea rede, ao doce zumbir das abelhas,
junto de minha mãe volto enfim a me achar.

Hermam Hesse
In Andares
foto por NeilsPhotography
  

SOLITÁRIO ANOITECER























Na vazia garrafa e no copo
bruxuleia a luz da vela.
Dentro do quarto faz frio.
Lá fora a chuva cai mole na relva.
Mais uma vez te recostas para um pequeno descanso,
curtindo o frio e a desolação.
Manhã e tarde passam e voltam,
sempre passam e voltam,
mas tu não.

Hermann Hesse
In Andares
tela de Mark Stock

VERDES VOZES


















Escute as vozes
no meio dos ramos
sabiás,tico-ticos,
pardais,gaturamos...

Escutem dos rios
os risos chegando,
das águas correndo,
das pedras cantando!

Escutem os grilos
crilando seresta
nos vãos das janelas
das horas em festa!

Escutem! Escutem!
Com pressa e vagar!
Há monstros humanos
fazendo-os calar!

E se eles calarem
num frio de repente,
quem vai pintar sonhos
nos sonhos da gente?!!

Maria Dinorah
In Ver de ver
foto de NeilsPhotography

28/03/2011

NATUREZA...


















A natureza hoje acordou irada:
o céu cobriu a terra com o lençol
sujo da chuva. O vento dá pancada
no rio, afugentando-o para a estrada...
E tanta chuva até esfriou o sol!

Estão chorando as árvores! Escuto
gemer e tiritante voz das aves!
A flor perdeu o aroma e o gosto o fruto!
A vida se vestiu toda de luto
e me nasceram pensamentos graves!

Mas por que a gente se entristece ou alegra
conforme anda lá fora o sol ou a chuva?
A alma é clara de dia e à noite é negra,
tem para os astros, pelos quais se regra,
risos de noiva e lágrimas de viúva!

Mas por que? Se o sabeis dizei-me, sóis!
luas! que há de comum em nós, que assim
é a mesma a natureza em mim e em vós?

Oh influência da natureza em nós!
oh potência da natureza em mim!

Attilio Milano
In Todos os Poemas
foto por Capricorn45rbjd

HOMEM




















Se a vida te pedir sempre o teu suor, enquanto
puderes, com a exaustão do corpo o solo rega!
Vês-me? fui sempre assim: se me fatigo, canto,
se o meu corpo trabalha, a minh'alma sossega!

Se a vida te pedir ainda o teu sangue, pega
do corpo e rasga-o nos espinhos com um santo!
O teu sangue e o teu suor de herança à vida lega
e viverás feliz como que por encanto!

Vês-me? por que é que vivo ainda, ante o teu espanto?
porque me esqueço da alma e dou o corpo à refrega!
Mas se a vida pedir-te uma lágrima, nega!

mas nunca dês à vida o suor d'alma que é pranto!
Ela não o vê nem ouve, ela é surda, ela é cega
a vida e toda, toda em si não vale tanto!...

Attilio Milano
In Todos os Poemas
foto por  wsos

TORMENTA...



















Noite triste:
zimbra o vento
que de riste
sangra e lasca
velha casca
a avelhentado  tronco rudo!

Dorme um rio
sonolento...
Treme o frio
pelas frestas
das florestas
e despe a fronde, despe tudo!

Pios tredos
veem de longe...
Os penedos
estremecem!
Nuvens descem
do alto, chorando as suas ânsias!

Coaxa um sapo,
reza um monge...
E alto, escapo,
voa o fumo
indefectivel das distâncias!

Numa rocha,
num assomo,
uma tocha
- avantesma
de si mesma! -
acorda algum extinto rito!

E alto, pelas
nuvens, como
as estrelas,
os coriscos
riscam riscos
no quadro negro da infinito!...

Zimbra o vento...
- Que tristeza! -
Sonolento
dorme o rio...
Corta o frio
e fere mais do que um açoite!

Despe a fronde
com a braveza
e o céu, onde
riscam riscos
os coriscos,
empresta a luz do dia à noite!...

Attilio Milano
In Todos os Poemas
tela de Francesco Zuccarelli

27/03/2011

ORIGEM
























Agarro o azul do poema pelo fio
mais delgado da lã de seu discurso
e vou trançando as linhas do relâm-
pago no vidro opaco da janela.

Seu novelo de nuvens reduplica
a concreta visão desse animal
que se enreda em si mesmo, toureando
a púrpura do mito e se exibindo
diante da minha astúcia de momento.

Sou cheio de improviso. Sou portátil.
E sou noite e falácia. Sou impulso
e excesso de acidentes. Sou prodígio.
E agora que há sinais de ressonância
sou milícia verbal configurando
a subversão na zona do silêncio.

****

Todo início é noturno. Todo início
é maior que seu tempo e sua agenda
de imprevistos. Mas todo início aguarda
a visita dos deuses e demônios.

Há fórmulas polidas nos subúrbios
da fala. Há densidades nos recintos
desprovidos de margens. E nos mínimos
detalhes de ruptura existe um sopro
de solidão que soa nesta vértebra
de audácia e persistência.
Alguém pertuba
o horário de recreio das palavras.

Gilberto Mendes Telles
Do livro Arte de armar, 1977
tela de Chris Simpson

POEMA EXDRÚXULO




















Não quero saber de amor platônico
nem de amor pretônico ou postônico.
Prefiro o amor tônico
com acento de intensidade
na idade e na medida
amor com icto
convicto
biotônico
como um eligir de longa vida.

Mas não quero também um amor crônico
que não ata nem desata
e maltrata
e esfola
quando não faz da tripa coração
ou corda de viola
ou violão.
Quero antes um amor amazônico
capaz de me dar a filha da rainha Luíza
um amor biônico
capaz de milhões de peripécias
um amor supersônico
capaz de vencer as barreiras dos ais
e não terminar nunca,
nunca mais.
Um amor que seja daltônico
para confundir paixão e esperança
e trafegar livremente
na mudança da gente.

Que seja menmônico
para guardar no coração e no ouvido
o acontecer acontecido.

E que seja lacônico
para dizer apenas vini vidi vici
ou qualquer outra tolice
em língua viva
em alfabeto rúnico.
Um amor irônico
e único.

Gilberto Mendonça Teles
Do livro Hora aberta
tela de Graham Round

SONETO DO LIVRO



















Um livro me contém: papiro ou sonho,
pergaminho ou papel, é sempre a casa
que o presumido autor habita e expõe
com muita pretensão e alguma graça.

Quem lerá este livro? que silêncio
corroerá as letras desoladas?
que figuras te mostram que não tenhas
no chão das tuas dúvidas mais altas?

O livro é tua vida? é cada gesto
que dissipas no tempo ou é renúncia
das coisas que se perdem no ar, no sestro

de alisar o volume, de senti-lo
livre na estante como um sol que nunca
completasse nas páginas seu giro

Gilberto Mendonça Teles
Do livro Hora aberta
tela de Sharon Wilson

CHUVA DE OURO























As begônias estão chovendo ouro,
suspendidas dos galhos da oiticica.
O chão, de pólen, vai fincando louro
e o bosque inteiro redourado fica.

Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.
Nunca a floresta amanheceu tão rica.
As begônias estão chovendo ouro,
penduradas dos galhos da oiticica.

Bando de abelhas através do pólen
zinindo num brilhante fervedouro,
as curvas asas transparentes bolem.

E, enquanto giram num bailado belo,
as begônias estão chovendo ouro.
Formosa apoteose do amarelo!

Sosígenes Costa
In Nothingandall
foto de Anne Conrad

NESTE LEITO DE AUSÊNCIA EM QUE ME ESQUEÇO























Neste leito de ausência em que me esqueço,
desperta um longo rio solitário:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessário.

O rio corre e vai sem ter começo
nem foz e o curso, que é constante, é vário.
Vai nas águas levando, involuntário,
luas onde me acordo e me adormeço.

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:
duplo espelho – o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,

de silêncio e silêncio me apodreço.
Entre o que é rosa e lodo necessário,
passa um rio sem foz e sem começo.

Ferreira Gullar
In Nothingandall
tela de Gustav Klimt

26/03/2011

A PALAVRA



Navegador de bruma e de incerteza,
Humilde me convoco e visto audácia
E te procuro em mares de silêncio
Onde, precisa e límpida, resides.

Frágil, sempre me perco, pois retenho
Em minhas mãos desconcertados rumos
E vagos instrumentos de procura
Que, de longínquos, pouco me auxiliam.

Por ver que és claridade e superfície,
Desprendo-me do ouro do meu sangue
E da ferrugem simples dos meus ossos,
E te aguardo com loucos estandartes
Coloridos por festas e batalhas.

Aí, reúno a argúcia dos meus dedos
E a precisão astuta dos meus olhos
E fabrico estas rosas de alumínio
Que, por serem metal, negam-se flores
Mas, por não serem rosas, são mais belas
Por conta do artifício que as inventa.

Às vezes permaneces insolúvel
Além da chuva que reveste o tempo
E que alimenta o musgo das paredes
Onde, serena e lúcida, te inscreves.

Inútil procurar-te neste instante,
Pois muito mais que um peixe és arredia
Em cardumes escapas pelos dedos
Deixando apenas uma promessa leve
De que a manhã não tarda e que na vida
Vale mais o sabor de reconquista.

Então, te vejo como sempre foste,
Além de peixe e mais que saltimbanco,
Forma imprecisa que ninguém distingue
Mas que a tudo resiste e se apresenta
Tanto mais pura quanto mais esquiva.

De longe, olho teu sonho inusitado
E dividido em faces, mais te cerco
E se não te domino então contemplo
Teus pés de visgo, tua vogal de espuma,
E sei que és mais que astúcia e movimento,
Aérea estátua de silêncio e bruma.

Carlos Pena Filho
In Nothingandall
tela de Igor Levashov

LIRA


















Da margem da lagoa adormecida,
Contemplo a superfície reluzida.
E é tão tranquilo o líquido abandono
Que cuido ouvir-lhe o plácido ressono.

Dorme a lagoa límpida estendida,
Pelo manto do céu toda envolvida.
Do seu profundo demorado sono
Vem despertá-la o vendaval do outono.

Sob as fortes rajadas incessantes
A água parece impulcionada lira,
Cheia de sons e espumas cintilantes.

Assim tocam-me as tuas mãos vibrantes,
E aminha carne em frêmito delira
Como a linda lagoa azul safira!

Débora Leão
In Remoto Sonho
foto de FBarao

AMOR E FILOSOFIA






















"... porque o amor procede de Deus e em Deus só
pode descansar, acima de todas as criaturas."
(Tomás de Kempis)


A dor somente existe.O mundo é sonho,
Pesadelo terrífico, medonho,
Que os bons assusta e aos maus parece breve,
Porque a alma imortal neles se atreve
A duvidar de Brama.

Se a dor existe, o meu amor é certo,
Como o pranto de Buda, no deserto.

***

A voz de Tao é a mesma voz da Esfera.
É ying, é yang, e um dia era
O caminho dos astros, a Harmonia,
A suprema beleza que existia,
O Deus de Lao-Tsé.

E o Inominável Tao reside inteiro
No meu amor, que é puro e verdadeiro

***

Foi Platão que sonhou: um dia justo,
O domínio do Bem, sereno e augusto,
Paraíso ideal que copiamos,
Na terra hostil e dura em que moramos,
Sendo o Mal nosso rei.

É o Toposnoétós é o amor profundo,
Que só por Ti criei dentro do mundo.

***

A Kaaba resiste. Allah é forte,
E a voz de Mahomet venceu a morte,
Falando, nas suratas do Korão,
De um futuro mais belo para o Islão
...Sr Kismet permitir.

E o meu amor, obstinado e crente,
É como os mafomanos do Oriente.

***

Mas a voz de Jesus, tão doce e grave,
Trouxe a revelação de um Deus suave,
De céus mais altos e ideais serenos,
Para os justos, os simples e os pequenos,
Que o mundo torturou.

E o meu amor, se sofre e se padece,
Não invoca Platão, nem Tao, nem Buda,
Curva a fronte de manso para a prece,
Porque dói mais uma agonia muda.

"Muktub" jamais meu pranto diz.
Suspira, cristãmente: "Deus o quis."

Alba Saltiel Bianco
In Música ao Vento
tela de Peter Paul Rubens

SE...



 











 

"Se quem confia em ti encontra mais que a conta"
(R.Kipling)

Se um dia me perderes, se algum dia,
Coração torturado, alma vazia,
Lamentares o pouco que vivi,

Se lembrares o amor que te ofertava,
Pendulária que fui, quando te dava
Muito mais do que sempre recebi,

Fica sabendo que, na eternidade,
Não me comoverá tua saudade,
Nem flores sobre a minha sepultura.

Se quiseres ser bom, eis o momento.
Depois de morta, quero esquecimento,
Que tardio remorso o mal não cura.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
foto de Francesco di Bellinzona (www.delprete.ch)

24/03/2011

OUTONO



uma aragem
uma estação
um rito de passagem...
um cão sem pelo
...em cima do muro:
não é lava nem gelo
nem claro nem escuro
uma luz quase sedada
em transição
(as árvores confrangem;
os ursos já estendem
suas camas)
um sopro
esta alma esvoaçada
um verso
uma folha de mim
à tua janela
deixada.
Fernando Campanella
tela de Longo

23/03/2011

OFERENDA
















"Guardaste nas tuas  mãos cada instante da minha vida"
 (Rabindranath Tagore)


Gostaria de oferecer-te algo
Que fosse grande e belo,
Esquisitamente  suave,
Absolutamente original.

Alguma coisa inútil
Como os meus pensamentos,
Imponderável como os meus desejos
E incompreensível como o meu amor.

Alguma coisa que te falasse de mim
Como uma fábula antiga,
Sem imagens sonoras,
Sem ideias brilhantes,
Mas cheia de moralidade.

Alguma coisa que te acompanhasse em silêncio,
Que vivesse contigo,
Sem deixar de ser minha.

E foi por isso que te ofereci,
Como uma dádiva suprema,
Como uma oferta imcomparável
- a minha ausência.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
foto de woolyboy

O TEMPO























"E o corvo disse: "Nunca mais."
 (Edgard Poe)

O tempo passou por mim,
Alterando os meus planos,
Modificando as minhas aspirações,
Fazendo da minha vida
E de todos os meus sonhos
E de todos os meus amores
Uma coisa medíocre.

Pingou banalidade e lugares-comuns,
Na minha inteligência,
Na minha alma
E no meu coração.
Alterou a forma do meu corpo,
A estrutura das minhas células,
As linhas do meu rosto,
As crenças da minha ingenuidade
E o meu próprio caráter.

E o tempo, que não respeitou nada,
Nem os meus defeitos
Nem as qualidades dos outros -
Esse tempo que deteriorou todas as alegrias
E tornou ridículos todos os martírios,
O tempo todo-poderoso
Não conseguiu ensinar-me
A arte de esquecer.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
foto de  woolyboy

LIÇÃO PROFUNDA

















'Lembra-te sempre que na noite escura,
Até a tua sombra te abandona."
(Humberto de Campos)


Ouve, menina, esta lição da vida,
E guarda para sempre o que ela encerra:
A mulher mais feliz é a mais fingida
E o amor mais belo é o que não há na terra.

Evita essa expressão tão comovida
E na tua vaidade o sonho enterra.
A quimera falaz é a mais querida
E aquele que mais sente é o que mais erra.

Pinta a boca e sorri. Tudo se acaba,
O mais nobre ideal por fim desaba
E o bem que mais se quer vive um segundo.

Ilude a todos. Ama a ti  somente,
Pois ocultar aquilo que se sente
É demonstrar que se conhece o mundo.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento

22/03/2011

HORIZONTE























Se eu apagasse a fina linha
do horizonte
será que o céu cairia
no mar?
E as estrelas e a lua
começariam a navegar?
Ou será que o mar viraria
céu
e os peixes aprenderiam
a voar ?

Roseana Murray
In Fardo de Carinho
tela de Fay Coneybeer


AS ÁRVORES E OS LIVROS























As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: "Floresta das zonas temperadas".

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga
In Herbário
tela de Cicely Mary Barker

21/03/2011

ELEGIAZINHA
























i. m. nikita (gata da Inês)

Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.
Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.
Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.

Nelson Ascher
tela de  GK & Vikki Hart


VENTO



















Por mais que tente, o vento
Não consegue adormecer
Se não tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília,
De bambu ou buganvília.

É por isso que o vento
Arrasta as folhas consigo,
Até encontrar um abrigo,
Onde possa adormecer.
- Arrastou até a folha,
Onde eu estava a escrever!

 Jorge Sousa Braga
 In  Herbário
 tela de  Casson

20/03/2011

DEDICATÓRIA PARA UM LIVRO DE POESIA























Do arvoredo sopram folhas,
da vida canções de sonho
vão tocando por aí.
Muitas perderam-se desde
quando primeiro as cantamos:
carinhosas melodias.

Canções também são mortais:
nenhuma se escuta sempre,
a todas o vento apaga.
Flor e borboleta são
transitórias aparências
de algo que nunca se acaba.

Hermann Hesse
In Andares
tela de John Constable

DEUS




















'Bem-aventurado, Senhor, os que habitam em tua casa."
( Davi - 'Salmos')


Um estrela, talvez, o odor suave
De uma rosa em botão.Um canto de ave,
Refulgência de sol, nágua parada.

Oceano em tormenta.Um riso claro
Ou gesto de bondade, estranho e raro,
Iluminando as trevas da jornada.

As notas de um piano, em rua morta,
Plenilúnio estival que se transporta
Entre nuvens de prata iridescente.

"Guernica" de Picasso. Poesia.
De Beethoven a Quinta Sinfonia
- Para mim isso é Deus Onipotente.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
tela de Anders Gisson

O POETA




















À noite, eu muitas vezes não consigo dormir:
a vida dói.
Fico então a brincar com as palavras,
com as boas e as más,
com as gordas e as magras,
e vou nadando pelo espelho do mar delas.
Longínquas ilhas surgem com azuis palmeiras,
da praia um menino cata conchinhas de várias cores,
banha-se em verde cristal uma mulher cor de neve.
Como no mar arrepiam-se as cores,
em minha alma flutuam sonhos-versos:
gotejam de prazer, enrijecem de luto,
- bailam, correm, dispersam-se perdidos,
enrolam-se em palavras conformados com essa vestimenta,
interminavelmente antiquíssimos e contudo cheios de inconsistência.
A maioria das pessoas não entende:
dão por loucura os sonhos e me dão por perdido
- e assim me veem mercadores, jornalistas,professores.
Crianças e mulheres muitas, de outro lado,
sabem de tudo e me amam como eu a elas,
pois também elas estão vendo o caos dos aspectos do mundo
e a elas também a deusa emprestou seu véu.

Hermann Hesse
In Andares
tela de Vincent Van Gogh

O PEREGRINO
























Estive sempre em viagem,
peregrino sempre.
Pouco tratei de mim:
sorte e azar vão e vêm.

Desconhecidos o sentido e o objetivo
do meu peregrinar,
das mil vezes que caí
tornei a me levantar.

Ah, havia a estrela do amor,
de que eu andava atrás:
lá nas alturas posta,
santa e longe demais.

Antes de conhecer o objetivo,
andei à toa:
tive sublimes prazeres
e alguma coisa boa.

Agora, que mal entrevi a estrela,
é tão tarde, afinal:
ela se escondeu, já,
desaba o aguaceiro matinal.

Despede-se o variegado mundo
a que eu tão bem queria:
mesmo tendo perdido o objetivo,
a viagem valeu pela ousadia.

Hermann Hesse
In Andares
tela Vincent Van Gogh

19/03/2011

SABEDORIA
























"É a alma que torna ricos os homens"
(Seneca)


Aprendi a viver. Sei finalmente
Chorar sozinha, rir intimamente,
Guardar para mim mesma o que me importa.

Adquiri a força dos que esperam
O mal somente pelo bem que deram,
E sabem que o direito é letra morta.

Adquiri também sabedoria
Para encontrar em Deus minha alegria,
Para Nele buscar socorro e exemplo.

Sei distinguir os fariseus e os crentes,
Justiça e leis, resíduos e sementes,
O ritual e a solidez do templo.

Sei que a alma da planta, do minério
Alma humana serão, nesse mistério
Que liga céu e inferno - a Evolução.

Sei também que algum dia nós seremos
Anjos - pura energia! e esqueceremos
O desespero da transmigração.

Esqueceremos formas evasivas
De granito ou hiena, e as redivivas
Almas de cardos, homens e chacais.

Energia seremos, força pura,
Movidos pelo anseio que se apura
No ímpeto de alçar-se sempre mais.

Liberdade infinita! Suma glória.
Por superar a angústia transitória
De ser matéria bruta, em dor perdida.

Eis tudo o que concebe - o sonho casto
De pureza maior, poder mais vasto,
Para servir a Deus, além da vida.

Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
tela John Singer Sargent

É SÓ POR ISSO




















"No deserto a cantar a canção mais sonora
 Muda-se em paraíso o deserto de outrora."
 (Omar Khayyam)


Claro que sei por quê. Se existe cor,
Perfume, ressonâncias, luz e flor,
É só porque te amo. É só por isso.

Refulgências de estrelas, sinfonias,
Clarões de raios sobre penedias
Não os percebe um coração omisso.

Arco-íris no céu, luar de prata,
Serenatas de pássaros na mata,
Tremulinas, em mar encapelado,

Leves sons de balada, o sol poente,
Um riso de criança, e o envolvente
Perfume de uma rosa, enfeitiçado,

Tudo isso, bem sei, não existira,
Se o mortal coração jamais sentira
A vibração do amor, maior que a morte.

O que existe de bom, de belo e puro,
No deserto da vida, amargo e duro,
É milagre do amor, domando a sorte.

Se inspiração existe, se há beleza,
Se em destinos humildes há grandeza,
Amor, por certo, opera essa magia.

Foi ele que criou céu, terra, inferno,
O espaço infinito, o tempo eterno...
- antes de haver amor, nem Deus havia.

Alba Saltiel Bianco,
In Música ao Vento
tela de Maurice Prendergast

DELÍRIO AZUL
























 " E flores verdes no ar brandamente se movem:
   Chispam verdes fuzis riscando o céu sombrio;
   Em esmeralda flui a água verde do rio,
   E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem..."
   (Olavo Bilac)


   Azul a tarde, azul o céu e o mar,
   Azul o tempo, que não vai passar,
   Enredado na trama opalescente.

   Azul o teu olhar, meu sonho louco,
   Essa ventura que durou tão pouco,
   Esta saudade que me torna ausente.

   Lividez de turquesa e água-marinha,
   Na visão de berilo, que é só minha,
   Em nuanças de índigo delira.

   Heráldico pavés, em blau tingido,
   O mundo se desfaz em colorido,
   Lápis-Lazuli, em campo de safira.

    Alba Saltiel Bianco
    In Música do Vento
    tela de Pierre Billet

EM SURDINA
























"Chacun de nous a sa blessure; j'ai la mienne.
 Toujours vive elle est là, cette blessure ancienne."
 (Rostand)


Ouve. É tão tarde! A música do vento
Embalou-me, de leve, o pensamento
E fez-me, sem querer, pensar em ti.

Lembras? Reinava em torno a primavera
Tu foste bom e crente, eu fui sincera,
Áureo sonho de amor, que não revi.

Depois... Que importa? O mundo permanece,
A vida segue e um dia, a gente esquece
Aquilo que supôs nunca ter fim.

As estações variam, correm anos,
Multiplicam-se os nossos desenganos,
Que a lei universal ordena assim.

Mas, se tudo morreu, por que agora
Eu, que desprezo o coração que chora,
A uma saudade inútil sucumbi?

Ouve e perdoa. É a música do vento,
Que me embala de leve o pensamento
E faz-me, sem querer, pensar em ti.


Alba Saltiel Bianco
In Música do Vento
Tela de Claude Monet

16/03/2011

CIX


















Oh! nunca digas que eu  te fui infiel, embora
Aches que descorou a ausência o meu afeto.
Abandonar eu teu espírito, onde mora
O meu, fora deixar o lar sempre dileto
Do meu amor, ou mesmo a mim repudiar-me.
Como quem viaja e volta, eis-me aqui novamente,
Aqui, onde devera a este tempo encontrar-me.
Venho lavar com pranto a mágoa que, inconsciente,
Na tua alma infundi. Não creias, posto exista
Em mim toda fraqueza a que é o sangue atreito,
Que eu tenha perpetrado a absurdeza imprevista
De olvidar que tu és meu bem sumo e perfeito,
De olvidar que só a ti devo amor o mais fundo,
Porque tu, minha flor, me és tudo neste mundo.

William Shakespeare
In Sonetos
foto de lifes26

15/03/2011

ESPELHO





















Quem é você que
me olha de dentro
com olhar tão meu?

Quem é você
meu carbono mais perfeito
que meu sorriso pressente
sem ao menos um aviso?

Retinto mistério:
a certeza de que em matéria
existo
a eterna procura inglória
do sentido

Paula Padilha
In Olhar descalço
tela de Patricia O'Brien

14/03/2011

ESTA É A MINHA MÁGOA
























Esta é a minha mágoa: com tão numerosas
máscaras ter representado tanto,
a mim e aos outros igualmente bem
ter sabido enganar. Em mim não há
qualquer gesto ou qualquer menção de canto
sem algum truque ou segunda intenção.

Devo dizer que é esta a minha desgraça:
conhecer o meu íntimo tão bem,
ante-sabendo cada batida do pulso,
que não há símbolo inconsciente de sonho,
nem perspectiva de alegria ou de tristeza,
capaz de alvoroçar-me ainda o coração.

Hermann Hesse
In Andares
tela de Serge Van Khache

CANTO
























A beleza não aprende a ser bela
e vive de ignorar
que o tempo a espreita sem a ver.

Antigamente nossos pais nos levavam para ver no campo
a madureza da fruta.
E no seixo que jogávamos no meio do rio,
cristal de impiedade, se espelhava a vida.

A beleza nada aprende
e ser é o seu segredo
- se você acender a lâmpada da sala,
até a varanda ficará clareada.

A beleza não aprende a morrer.

Não nos comunicamos com os corpos,
nossa parada é jogada com as almas.

As cortinas esvoaçam, nutrindo-se de noroeste
e as formigas preferem jantar os mortos.

A beleza quer sempre ficar acordada.

Sempre evitamos o conforto dos abismos.
Por isso são brancas as mortalhas
com que nos cobrimos na hora de dormir.

A beleza não concorda em morrer
e morre
como os antigos deuses, Ágata, que exaltaram a vida,
como os modernos deuses que inistem em apregoar a
[conveniência da morte.


Lêdo Ivo
In Antologia Poética
tela de Gary Benfield

BALADA INSOLENTE
























Ao amor, como ao banho
deve-se ir nu
levando-se contudo
cálcio e Poesia.
E deve-se exigir
mais que a morte,
a vida; movimentos
livres e respiração.

Que, neste momento,
a Poesia seja
riso e não lágrimas.
Nunca assaz louvada,
que ela esteja sempre
a serviço da vida
sem trair os homens.
Poesia e cálcio.

Ao amor, que tem tudo,
deve-se ir sem nada,
levando-se no entanto
provisões de hormônios
até mesmo no olhar.
Na noite higiênica
o vento balança
grandes flores: cálcio.

Lêdo Ivo
In Antologia Poética
tela de Gary Benfield 

***






















Só temos consciência do belo;
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom;
Quando conhecemos o mal.
O fácil e difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares
Eis porque o sábio age;
Pelo não agir.
E ensina sem falar.
Aceita tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza;
E nada considera seu.
Termina a sua obra;
E estás sempre no princípio.
E por isso a sua obra prospera!

Lao Tsé
Imagem  de http://cirojorge/

METAMORFOSE DO AMOR
























Se me queres assim, se tu me queres
é porque me tornaste diferente.
Se me queres assim
é porque em mim
já estás presente.

Às vezes quedo-me a pensar
que o amor nisto se resume,
dois seres mutuamente a se entregar
recebendo com ciúme
o que voltam a permutar.

Miguel Reale
In Poemas do Amor e do Tempo
tela de Marcel-Louis Baugniet 

13/03/2011


Cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

Paulo Leminski
In Melhores Poemas
foto by kaycatt*

O HOMEM - PROCESSIONAL
























Junto de ti, homem, ser processional que só vês tua sombra,
pousa a mão no teu ombro o Anjo que te proteje.
Mas, ora esvoaça à direita, ora esvoaça à esquerda
o grande e belo Anjo exilado da Luz.
Adiante de ti - perfurada e sangrando,
a mão do Redentor te aponta o caminho certo;
dentro de ti - seres anteriores a ti, - luminosos ou negros
vão contigo e tua sombra.
Quando adormeces e ficas durante o sono - invisível e inocente,
e o livre arbítrio voa de teu cadáver,
a estranha procissão espera que tu te acordes
para prosseguir a marcha.
Por isso é que te cansas sem motivo nenhum.
Por isso é que andas de costas para o caminho certo.
Por isso é que tropeças e tateias como um ser sem leme.
Por isso quando pensas estar sobre o abismo do Inferno,
a mão perfurada e sangrenta te conduz para cima.

Jorge de Lima
In Poesia Completa
tela de Elvira Amrhein

12/03/2011

SÚPLICA



















Que nunca se tire o sorriso da face,
Do pássaro as asas, o perfume da flor,
Do violão as cordas, o harmônico enlace,
Da manhã o sol, do coração o amor.

Oxalá o violão o seu som não calasse
Cravando no peito o silêncio da dor
E o sol, por sua vez, a ninguém se ocultasse
Varrendo do mundo a beleza da cor.

Sem asas o pássaro só vê o tormento,
Sem sol na manhã, só tem escuridão
Tirando da alma o vigor, o sustento.

O amor é magia que dá voz à canção,
Que nunca se prive a alguém este alento:
Seria apagar desta vida a razão.

Cladi C.A.Levandowski
In euniverso
foto de publik_oberberg

ATALHOS




















Eu tropecei estradas,
Escorreguei ladeiras,
Encharquei caminhos sob a chuva fina,
Suei picadas nas febres do mormaço,
Sustentei de poeira meu cansaço.
Da vida, fiz andanças,
Mochilas, fiz mudanças,andei!
Como molhei de suor meu coração!
Quanto, à deriva, pisei-me no meu pranto...
E caminhava mais!
Estrepes e espinhos marcaram cicatrizes
Na paisagem parda e sem matizes,
Onde o querer andar, desgovernado e trôpego,
Perdia-me no perdido dos caminhos.
Cansei!
Parei à sombra de uma vida
E, delirando, sonhei que era minha.

- Vem!
Eu fui!
Era um caminho novo, verde e lindo!
Desvairada corri, liberta e nua,
Abrindo os braços,
Enlouquecida, solta, céu e lua,
Para abraçar tu'alma!

Eu te tocava,quase,
Quando o caminho
Rasgou-se em dois atalhos:
Tu seguias por um, suave e leve,
E me apontavas o outro, gelo,neve!

Minha alma esgazeou-se.
Meu coração, vestido de mendigo,
Despertou suado, morno, empoeirado,
Na brisa velha de um velho vento antigo...

Mila Ramos
In Pé de Vento
foto de publik_oberberg

BENDITOS

















Muitas palavras
voarão inúteis
Pelos espaços dos homens...
Chocar-se-ão
Nos rochedos da incompreensão
E nunca tocarão
As metálicas maçanetas
Da alma humana.
Morrerão asfixiadas
Na indiferença.
Inúteis...
Por isso,
Benditos o sorriso e a lágrima,
Língua de todas as pátrias,
Em todos os tempos.
Benditos os homens
Que sabem falar,
Que deixam falar;
Que sabem sorrir,
Que fazem sorrir.
E mais benditos sejam
Aqueles que sabem chorar...

Cladi C.A. Levandowski
In euniverso
foto de g.bremer 

DESPERTANDO

















É maravilhoso,Senhor,
Poder outra vez acordar.
Bebendo do sol o calor,
Sorrir para a vida e amar,
Sentindo as marcas do amor,
No céu, cá na terra e no mar.

E ver no irmão que ali passa
A imagem de Tua grandeza;
Colher toda fonte de graça
A brotar da mãe Natureza,
Que apaga de vez a fumaça
E deixa na fé chama cesa;

Ouvir o canário cantar
A aurora em seu canto anunciar;
Surpreender o orvalho na flor,
O ar puro poder respirar.
É maravilhoso, Senhor,
Na Tua  luz sentir-me guiar!

Cladi C.A. Levandodwski
In euniverso
foto de g.bremer

COMO É BOM


















Como é bom poder sentir
A energia do teu olhar
Inundando os meus olhos
Numa doce confluência
O infinito a me mostrar.

Como é bom sempre saber
Que ao menos num momento,
Apesar da longa estrada,
Eu habito as verdes plagas
Do teu puro sentimento.

Como é bom adormecer
Desfrutando a melodia
Da tua imagem no meu sonho
E acordar pedindo a Deus
Junto a ti ter mais um dia.

Como é bom ter minha face
Na tua face a deslizar...
Nossas almas navegando
Sob o sol de qualquer hora
Na emoção deste mar.

Como é bom ser na tua vida
A visão de um porto amigo
Que teu barco vai ganhando
À medida do encontro,
Na certeza de um abrigo.

Como é bom ter a tua seiva
A nutrir-me como à flor,
No perfume do afeto,
Germinada na esperança,
Enraigada no amor!

Cladi C.A. Levandowski
In euniverso
foto de  lifes26